No
planeta Arrakis, ao abeiro dumha espenuca (nesse planeta costuma haver acotio
tempestades de muito nabo) atopam-se com Gurney Hallek (o famoso trovador
caladano) cinco outros trovadores:
Um
deles é inglês.
Outro
é francês.
Um
outro é italiano.
Mais
um outro é espanhol.
E o
derradeiro é português.
Assi
que o Gurney começa a tocar no seu baliset de nove cordas, ocorre-lhe umha
pergunta de tipo histórico-linguística. Diz assi (traduço ao galego, pra
facilitar a compreensom):
«Alô
longe, mui longe, há um planeta, azul e nom coma o nosso, cheio de auga que nem
o próprio Caladan, em que havia milheiros de trovadores. O derradeiro e mais
milhor de todos eles chamava-se Bob Dylan, que escrevera cousas sublimes coma
«estava eu a navegar na Frol de Maio quando cuidei albiscar terra». Mas antes
dele houvo muitos outros. A pergunta-desafio do milhom de doses de melanxe, é a
seguinte»:
«Quem
dentre vós é quem (dentre vós) de declamar o mais antigo e belido poema-cantiga
da vossa língua, mas que seja tam comprensível, pra vós, quanto belido e
antigo?»
O
francês salta de contado, já se sabe como som patriotas os dessa naçom, mas
como nom sabia nada de francês antigo que fosse compreensível pra ele mesmo,
ficou-se por um verso de Ronsard («Ah longues nuicts d'hyver de ma vie
bourrelles, Donnez moy patience, et me laissez dormir» ) e que de resto nom
vinha a calhar numha noite de tempestade de areia em Arrakis (onde os ventos som
tam fortes que é sabido vos podem arrincar coma coitelos a carne dos ossos).
O
inglês, mais comedido, acha que o seu tempo é chegado: «ele-eu tamém tenho algo
pra recitar» («I will, if I may», dito na sua fala) e começa a recitar qualquer
cousa do Guilherme Xaquespeira, tipo, «I like this place and willingly could
waste my time in it» (E isto até o português o entendeu.)
«Moi
bem», dixo o Gurney, «tam antigo coma o francês, e ainda nom menos belido e
considerado» (e aí os protestos do trovador francês de que o idioma inglês
provinha do francês nom recebérom muita atençom).
Toca
ao italiano:
«Nel
mezzo del cammin di nostra vita
mi
ritrovai per una selva oscura
ché la
diritta via era smarrita. »
«Bom,
se quadra nom som os versos mais belidos que já ouvimos, — retrucou o Gurney —
mas som mais antigos e venhem bem a calhar nesta cova de refúgio em que nos
achamos ... »
O
turno é agora pró espanhol, que consulta no seu iPhone 7 Plus e recita o seguinte:
«De
los sos oios tan fuertemientre llorando,
Tornava
la cabeça e estávalos catando»
E aí
que o português se ergue de súpeto, e protesta: «isso não é bonito, pá, e de
resto é português!». O espanhol nom parece fazer muito caso, porque anda mui
ocupado no seu iPhone 7 Plus, a pescudar tradutores automáticos ou dicionários
on-line que lhe ajudem co significado desse poema, que decerto lhe escapa ...
Gurney,
matinando e afinando no seu baliset, diz, «mmmh, nom sei, nom sei ... » incerto
ele tamém do significado da velha cantiga espanhola ou portuguesa ...
Entretanto,
o português era o único que faltava por declamar. E como os portugueses som,
como sabemos, mui aleutos e espilidos (=espertos), o nosso português de Arrakis
pega no seu velho magalhães (este era um exemplar raro que ainda funcionava) e
fai umha pescuda internética por algumha velha cantiga galega. E saiu com esta:
«Quantas
sabedes amar amigo, quantas sabedes amar amado, treides comigo ao mar de Vigo,
e banharnos-emos nas ondas, etc».
O trovador
dos Atreides (que era poliglota, amais de trovador), fica estantio perante a
beleza e singeleza desses versos supostamente portugueses, que portugueses eram
pois que o português os entendia, e eles eram os mais antigos de todos os que
já ouviram naquela espelunca, e nesse mesmo intre, coma por obra dum milagre,
os seus olhos se acendérom dumha faiscante luz azul ...
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